A mesa que abrirá a I Jornada de Literatura
Contemporânea da Unifesp é composta por trabalhos que discutem as relações e tensões
entre as margens sociais e o cânone literário brasileiro:
João Antônio, ficção, malandragem e
autobiografia
Bruno Zeni (USP)
O escritor João Antônio estreou na
literatura com o volume de contos Malagueta, Perus e Bacanaço (1963), sucesso de público e crítica que o consagrou como um retratista da
malandragem de São Paulo e escritor atracado com a vida. O autor se mudou para
o Rio de Janeiro, onde viveu até o fim da vida (1996), atuando como jornalista
e escritor. Sua literatura ainda conserva grande atualidade em uma combinação
inusitada de ficção realista, experimentação de linguagem e autobiografia,
expressando o caráter contestador da malandragem, do crime e da experiência
pessoal, mas também seus limites.
João Antônio
Sobre o autor:
João Antônio (1934-1996). Jornalista e
escritor brasileiro. Nascido em São Paulo, João Antônio mudou-se para o Rio de
Janeiro em 1964. Tem a sua obra marcada pela presença de personagens do
submundo das grandes cidades: malandros, desempregados, jogadores de sinuca,
prostitutas, homossexuais. Entre as mais de vinte obras publicadas estão
Malagueta, Perus e Bacanaço (1963), Leão de chácara (1975) e Malhação do Judas
carioca (1975).
Memórias do contragosto: MM na luta contra
o cânone
Sérgio de Sá (Universidade de Brasília)
Em O azul do filho morto (2002) e Charque
(2011), Marcelo Mirisola faz estripulias com as recordações do vivido, lido e
visto. Como é possível ser do contra na atualidade? Como desestabilizar as
certezas compartilhadas no agora? Ainda se pode dizer não? A prosa de MM
oferece uma resposta em primeira pessoa que persegue e tenta se desviar da
trilha ambígua aberta, pela literatura brasileira
contemporânea, entre realidade e ficção.
Marcelo Mirisola
Sobre o autor:
Marcelo Mirisola (1966). É formado em Direito e autor de contos, crônicas e romances. Entre eles, Fátima fez os pés
para mostrar na choperia (1998), O azul do filho morto (2000), Bangalô (2003) e
Charque (2011).
Recusa e procura do cânone: a manipulação
do estigma nas narrativas prisionais contemporâneas
M. Rita Palmeira (USP)
Narrativas escritas por homens marcados
pela experiência prisional no Brasil de fins do século XX parecem destinar-se a
dois interlocutores ideais distintos: os pares na prisão e os leitores do mundo
exterior. As histórias, quase todas de teor autobiográfico, recuperam códigos e
comportamentos originais que estão na base das relações prisionais, de uma
“sociedade” fechada em si, mas que, para existir, precisa reportar-se ao mundo
exterior. Para que existam, as condutas e valores próprios ao universo
prisional dependem da expectativa de “estar-fora” daquele ambiente. O modo como
esses autores procuram garantir seu espaço no campo literário repõe a mesma
ambivalência: se por um lado sustentam certa recusa aos critérios de valor que
atribuem ao “mundo exterior”, por outro reivindicam a sua chancela. Partindo de
uma análise de Memórias de um sobrevivente, de Luiz Alberto Mendes (Companhia
das Letras, 2001), pretendo refletir sobre o modo como o estigma (E. Goffman)
de presidiário termina por prestar-se a esta dupla função: afastamento do
cânone e desejo profundo de fazer parte dele.
Luiz Alberto Mendes
Sobre o autor:
Luiz Alberto Mendes (1952). Nasceu em São
Paulo, onde passou boa parte de sua vida em reformatórios e penitenciárias. É
autor de três livros Memórias de um sobrevivente (2001), Tesão e Prazer:
Memórias Eróticas de um Prisioneiro(2004) Ás Cegas (2005).
Quando: Segunda-feira 29 de outubro de 2012, às 14H.
Onde: Auditório Adamastor-Pimentas (UNIFESP) - Estrada do Caminho Velho, 333 - Bairro dos Pimentas. Guarulhos SP.